Caçadores organizados

Caçadores organizados e hábeis

 

Ao meio da tarde quando o sol incide nas ondas que batem levemente na praia de uma baía havaiana, os golfinhos quer ali vivem começam afirmar um colo de estalidos secos e assobios ocasionais. À medida que aumentam os ruídos e o entusiasmo, os assobios sobrelevam os estalidos. Quando os sons atingem determinado nível, uma delgada forma cinzenta e rompe da água e contorce-se no ar, no sentido do comprimento, antes de cair, batendo por vezes estrondosamente com a cabeça e a calda na água. Outros golfinhos emitam-no, enquanto alguns saltam por cima e a volta uns dos outros na água.

Trata-se de golfinhos saltadores, de 1.80m de comprimento, assim chamados pelos saltos acrobáticos, que se preparam para a caçada nocturna que se avizinha. Muitos animais que caçam em grupo, como os lobos e os mabecos, comportam-se de modo semelhante antes de partirem. Uma boa caçada depende da cooperação, pelo que as actividades do grupo têm de ser de certo modo coordenadas.

Progressivamente cada um dois golfinhos nada aos ziguezagues até e a partir da entrada da baía, e ao fim da tarde todos rodopiam ou nadam aos ziguezagues. Os golfinhos saltam da água e voltam a mergulhar ao mesmo tempo que os estalidos e os assobios provocam uma intensa cacofonia. Quando todos chamam e nadam juntos até a entrada da baía, o grupo está pronto para partir.

Os golfinhos obtêm o seu alimento através da caça, utilizando cada uma das espécies uma técnica própria.

Os golfinhos costeiros que vivem em pequenos grupos, caçam individualmente. Atacam presas isoladas aproximando-se muito da costa e vagueando por vezes por águas que não ultrapassam os 2m de profundidade. O seu regime alimentar é muito mais variado do que o dos golfinhos de mar alto. Comem tudo que encontram: enguias e peixes que vivem no fundo, cefalópodes e pequenos camarões. Mas o seu peixe predilecto é a tainha.

A caça no mar alto

Os roazes-corvineiros, que vivem no mar alto em grupos de muitas centenas de indivíduos, alimentam-se em geral de manhã cedo ou ao fim da tarde.

Na altura da caça, constituem-se várias equipas (ver figura), que a seguir se espalham por um amplo espaço de mar, mantendo-se em contacto sonoro. Graças ao sistema de ecolocalização, avistam rapidamente os cardumes de peixes: bacalhaus, cavalas e arenques. Depois de terem localizado um cardume de peixes, os golfinhos aproximam-se e cercam-no. Os peixes ficam assim prisioneiros, cercados pela barreira cerrada dos seus predadores e, em pânico, juntam-se, tornando-se assim numa presa fácil. Os golfinhos mais fortes são os primeiros a atacar as presas, enquanto algumas “sentinelas” ficam em zonas periféricas para não deixarem fugir o cardume. Os caçadores capturam os peixes aspirando-os um de cada vez e impedem-nos de deslizar para fora da boca enganchando-os com os numerosos dentes.

Pode acontecer que espécies diferentes se juntem num único grupo: por exemplo, acontece ver golfinhos-raiados ( Stenella attenuata ) juntamente com golfinhos-de-bico-comprido ( Stenella longirostris ) e atuns. Nas águas tropicais do Pacifico aos milhares. Pensam-se que as duas diferentes espécies de golfinhos se agrupam para se poderem defenderem melhor de eventuais predadores, como os tubarões. Parece, de facto, que estas duas espécies não competem, pois não têm os mesmos hábitos alimentares. Os golfinhos-raiados, precisamente como os atuns, alimentam-se durante o dia de peixes de mar alto, enquanto quer os golfinhos-de-bico-comprido se dedicam preferencialmente a caçadas nocturnas para procurar peixes-lanternas ou cefalópodes.

Os biólogos supõem que os atuns, igualmente apreciadores de peixes, sigam os golfinhos para aproveitarem o seu sistema “sonar” de detecção. Tal como os atuns, também as fragatas, ágeis, aves marinhas, sabem aproveitar a habilidade dos golfinhos. Acompanham-nos durante a caçada e agarram os peixes que tentam fugir saltando para fora da água.

Todos delfinídeos são carnívoros: capturam peixes, cefalópodes e crustáceos com os dentes e engolem-nos sem mastigar. O estômago constituído por um certo número de compartimentos, tem paredes robustas e dura que se encarregam da “trituração” do alimento ingerido.

Em condições naturais impossível determinar a quantidade de alimento consumido por um golfinho num dia. Os únicos estudos que foi possível efectuar foram realizados em golfinhos mortos, analisando o conteúdo do seu estômago. As estimativas são mais fáceis em cativeiro. Um roaz-corvineiro, que pesa cerca de 230kg, come entre 8-10kg de peixes por dia. Uma fêmea grávida precisa de 15kg de alimento por dia. No entanto, os golfinhos que vivem em liberdade ingerem certamente maior quantidade de alimento, pois as suas presas não possuem qualidades nutritivas das espécies utilizadas para alimentação dos animais em cativeiro.