Uma "bóia" de salvação para os golfinhos do Sado

segunda, 26 maio 2008
Publicado em Notícias
Disciplinar barcos de recreio é objectivo do plano. Eram 40 há duas décadas, mas hoje não vão além de 26. O diagnóstico da abrupta redução da comunidade de golfinhos no estuário do Sado é sobejamente conhecido pelos biólogos - o cenário de extinção ameaça estes inteligentes cetáceos à medida que a poluição avança no chamado "rio azul". Só agora o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICN) decidiu pôr mãos à obra, acreditando que o futuro Plano de Acção para Salvaguarda e Monitorização do Estuário do Sado (PASMES), que deverá estar concluído no final deste ano, vai ser capaz de definir novas regras ambientais, que permitam minimizar o problema.

A poluição, aliada ao stress provocado pelas embarcações de recreio, é uma das duas causas do progressivo desaparecimento dos golfinhos roazes-corvineiros das águas do rio Sado, numa altura em que, dos 17 elementos adultos que compõem a comunidade, apenas três são jovens com capacidades reprodutivas.

Os alimentos contaminados que ingerem regularmente afectam o leite das fêmeas em cerca de 80%, o que explica a fraca taxa de sobrevivência das crias, mas são as velocidades, os ruídos e as acrobacias dos barcos de recreio, sobretudo nos meses de Verão - quando os animais se reproduzem - que explicam a sua alteração comportamental e, por vezes, a morte. Alguns estudos demonstram que o barulho dos motores das embarcações a passar demasiado nas suas rotas de alimentação provocam hemorragias nos pulmões e ouvidos dos animais. Uma situação que poderá vir a ser agravada quando os novos ferries passarem a ligar Setúbal e Tróia.

Como contrariar a tendência? Porque é urgente eliminar a travessia do Sado por cima das rotas dos cetáceos, a criação de percursos alternativos para as embarcações está entre as prioridades do futuro PASMES.

A maior novidade do plano prende--se com o facto de o ICN ter conseguido agora reunir várias instituições públicas e privadas, onde surgem a Lisnave, Portucel e a própria Sonae Turismo, além da Câmara de Setúbal e dos próprios ambientalistas. Isto, depois de a Quercus já ter endereçado uma queixa a Bruxelas, justamente reclamando "fiscalização apertada contra a poluição no estuário do Sado", segundo o presidente do organismo Hélder Spínola.

Mas o biólogo João Carlos Farinha, do ICN, sublinha que a ideia do plano de acção passa por definir "quatro ou cinco objectivos de missão", em que vai ser necessário monitorizar os golfinhos e a própria água do estuário. Uma tarefa que poderá competir a entidades estatais ou privadas. "Vamos desenvolver acções para identificar os problemas e depois teremos condições de apresentar um conjunto de regras. Mas temos de garantir que todas as acções importantes para salvaguarda do golfinho são aplicadas, reunindo com todos os parceiros", avançou.

A questão das rotas para as embarcações volta a servir de exemplo: "Se concluirmos que os trajectos são um dos problemas, temos de os regulamentar, colocando bóias no território. É isso que o plano vai identificar", explica, alertando que "só será possível salvar os golfinhos se salvarmos o estuário".
fonte: dn.pt
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